É preciso que zelemos pela Embrapa, no incentivo a seus pesquisadores e na recuperação de seu orçamento, pois todo real gasto nela gera muito mais em termos de retorno para a economia nacional.
No artigo “Embrapa, um tesouro do Brasil” para o portal “Poder 360”, o ex-deputado Cândido Vaccarezza salientou a importância da estatal para a agricultura brasileira.
A Embrapa foi criada em 1972, em uma iniciativa do governo federal de unificar diversos centros de pesquisa de agronomia do país, o que possibilitou um grande salto tecnológico para esse setor essencial da economia nacional. Dentre os projetos da Embrapa podemos citar a tropicalização da soja, do trigo, assim como da genética bovina. Conforme Vaccarezza diz em seu artigo, “a Embrapa é o diferencial entre o Brasil avançado e o Brasil atrasado”.
Grande importância para esta estatal teve o agrônomo Alysson Paulinelli, ministro da Agricultura no governo Geisel, no apoio a desenvolvimento de projetos no setor. A ele se credita o papel de transformar o Centro-Oeste de terras pouco agricultáveis em grande celeiro nacional em algumas décadas, com base mais no aumento da produtividade do solo do que na expansão das terras para a lavoura.
Se na década de 1970, com os choques do petróleo, o Brasil sofreu em seu balanço de transações correntes com o fato de ser importador de petróleo e alimentos, com o avanço da agronegócio e a exploração offshore de petróleo – sobretudo a partir do pré-sal -, hoje enfrenta uma situação melhor, já que, com o grande empurrão da Embrapa, tornou-se um dos maiores exportadores de alimentos do mundo, junto com os Estados Unidos.

Contudo, Vaccarezza aponta que nem tudo são flores. Apesar da importância da Embrapa para o Brasil, a mesma se encontra subfinanciada pelos últimos governos. Este fato foi apontado em artigo de Xico Graziano, “A Embrapa pede socorro“, que aponta que o orçamento da estatal teve queda de 80% no período de 2014-2024 e que ela precisa de R$ 300 milhões a mais em seu orçamento para se manter em 2025. Parte desse problema se deve às políticas de contingenciamento em vigor desde então, desde o aperto fiscal do governo Dilma 2, passando pelo “teto de gastos” dos governos Temer e Bolsonaro e do “arcabouço fiscal” de Lula 3. A Embrapa, como empresa estatal dependente, sofre com esses ajustes.
Outro problema apontador por Vaccarezza são problemas internos da Embrapa, em termos de gestão, excesso de burocracia e a liberdade excessiva para os pesquisadores, que terminam por desenvolver projetos pouco condizentes com a realidade nacional.



Esses são depoimentos de pesquisadores, sob a forma de anonimato, que usou para ilustrar seu argumento. Tal descoordenação de gestão é sintoma da falta de planejamento, no sentido de inserir o trabalho dos pesquisadores dentro de um projeto maior, que deveria vir do governo, sob forma de metas e objetivos para cada órgão ou entidade da Administração Pública. O que havia na época da criação da Embrapa, criada e desenvolvida no âmbito no I e II Plano Nacional de Desenvolvimento.
Além disso, problemas semelhantes encontramos não só na Embrapa, mas nas universidades públicas e nos institutos de pesquisa. Neles reivindica-se frequentemente autonomia para pesquisa, mas ninguém abre mão das verbas destinadas pelo poder público – isso para não falar no financiamento privado de organismos estrangeiros que distorcem o sentido da pesquisa com utilidade pública. Falamos aqui do financiamento das ONGs sobretudo nas ciências sociais. Por outro lado, entendo que o papel do governo no financiamento à pesquisa deveria integrar a atividade dentro de um plano nacional, com metas e objetivos, orientado para o crescimento econômico, para o florescimento de uma ciência autônoma e para o engrandecimento cultural e educacional do nosso povo.
É preciso que zelemos pela Embrapa, no incentivo a seus pesquisadores e na recuperação de seu orçamento, pois todo real gasto nela gera muito mais em termos de retorno para a economia nacional.