Embora pareça um contrassenso, diante do movimento global de “descarbonização” da economia, o vaticínio vem de um “insider” da alta finança internacional, o setor que vinha proporcionando o impulso mais forte para a redução acelerada do uso dos combustíveis fósseis.
Em uma entrevista à agência Bloomberg (03/03/2025), Nishant Gupta, fundador e Chief Investment Officer (CIO) da Kanou Capital LLP, não mediu palavras para descrever as perspectivas do setor, como as vê: “Todo o setor – solar, eólica, hidrogênio, células de combustível –, tudo que é limpo está morto no momento”.
Gupta, que antes de criar sua empresa trabalhou no Clean Energy Transition LLP, um fundo de hedge com ativos de US$ 2,7 bilhões sob sua gestão, admitiu: “Os fundamentos são muito pobres. Eu não estou falando sobre o longo prazo. Estou falando sobre onde vejo fraquezas neste momento”.
Segundo ele, vários fatores contribuem para os resultados negativos de grande parte da indústria de energia limpa: “uma barragem de ventos contrários nos EUA”, uma crise de energia alimentada pela guerra na Ucrânia e as taxas de juros teimosamente altas.
Assim, não admira que o S&P Global Energy Index, um dos principais indicadores de saúde financeira do setor, tenha perdido 20% do seu valor, contra uma valorização de 16% do tradicional S&P 500. Resultado que reforça a visão de que os problemas do segmento já se manifestavam antes da vitória eleitoral de Donald Trump nos EUA.
Apesar das perspectivas ruins, Gupta disse que sua empresa segue enfocada em identificar nichos do mercado em que a dinâmica da oferta e procura ofereça oportunidades de bons investimentos.
Não obstante, os exemplos citados por ele foram de empresas que fornecem equipamentos tanto para sistemas de energia “limpa” como para os convencionais, casos da Ingersoll Rand (EUA) e da francesa Legrand, que fabricam uma variedade de equipamentos para sistemas elétricos. E é emblemático que os principais acionistas de ambas sejam grandes fundos de gestão, como Capital Group, Vanguard, BlackRock, Sun Life Financial e Massachusetts Financial Services. Até há pouco, alguns deles encontravam-se entre os principais batedores de bumbo para a “descarbonização”, mas já começaram a dar marcha-à-ré, antes mesmo do retorno de Trump à Casa Branca.