A conhecida ONG “tropa de choque” do ambientalismo internacional velejou um mês pelo litoral do Amapá para produzir um insidioso relato de intervencionismo político travestido de pesquisa científica.
Dentro da divisão de trabalho da agenda antidesenvolvimentista do aparato ambientalista-indigenista internacional que opera no Brasil, cabe ao Greenpeace a ofensiva principal contra a exploração de hidrocarbonetos na Margem Equatorial Brasileira (MEB), em apoio direto ao empenho da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, encarregada de protelar o licenciamento ambiental para a pesquisa ao largo da costa do Amapá.
Em março, a ONG mobilizou o seu veleiro Witness para a chamada Expedição Costa Amazônica Viva, para, alegadamente, “fomentar a produção de conhecimento científico em relação à dinâmica das águas costeiras e oceânicas da bacia da Foz do Amazonas, documentar a rica sociobiodiversidade da região e possíveis impactos da exploração de petróleo”. Para pintar o cruzeiro como uma expedição “científica”, a ONG levou a bordo pesquisadores do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA).
Como o objetivo era levantar os “possíveis impactos da exploração de petróleo”, o resultado não poderia ser diferente. Em 3 de junho, o Greenpeace Brasil divulgou um capcioso boletim de imprensa (“O que os derivadores da Expedição Costa Amazônica Viva nos dizem?”), que foi prontamente repercutido pela máquina de propaganda do aparato “verde-indígena” como uma suposta evidência científica da inviabilidade da exploração no Amapá (as bacias da MEB no Nordeste já são exploradas normalmente).
Segundo o boletim:
“Guiana Francesa, Suriname, Guiana e, possivelmente, águas caribenhas. Esses são alguns dos destinos de possíveis derramamentos de óleo de projetos de exploração de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas. São centenas de quilômetros de contaminação dos mares, regiões costeiras e potenciais impactos irreversíveis à vida marinha. (…)
“Os dados sobre as correntes de superfície da região, marinhas e costeiras, que permitem ampliar o conhecimento sobre a dinâmica das águas e possíveis caminhos de manchas de óleo, foram coletados por meio de sete derivadores (equipamentos oceanográficos com GPS) lançados em diferentes pontos da Bacia da Foz do Amazonas, alvo da indústria petrolífera. (…)
“Das sete ‘boias com GPS’ lançadas ao mar, por exemplo, cinco atravessaram a fronteira brasileira em um curto intervalo de tempo. Marcelo Laterman, coordenador na frente de Oceanos, explica que essas movimentações representam uma grave ameaça ambiental aos países da Pan-Amazônia, aos seus povos, e com eventuais impasses diplomáticos e operacionais.
“‘A Bacia da Foz do Amazonas tem correntes marinhas e costeiras muito fortes cujas dinâmicas são pouco conhecidas pela ciência. Exemplo disso é o histórico de 95 perfurações em águas rasas na região, a maioria pela Petrobras, que contabilizaram 27 acidentes mecânicos e nenhum poço bem sucedido. Hoje a ameaça é ainda maior, mas as incertezas são as mesmas’, afirma Marcelo Laterman, coordenador da frente de Oceanos do Greenpeace Brasil (grifos no original).”
O boletim do Greenpeace Brasil é um exemplo acabado da combinação de má-fé e desprezo pela inteligência alheia, com que o aparato “verde-indígena” costuma tratar a opinião pública. A rigor, uma mera consulta a um livro de Geografia do Brasil do Ensino Médio ou à Internet permite constatar que o fluxo da corrente marinha prevalecente na região, a Corrente Norte do Brasil, de sudeste para noroeste, faria com que um eventual vazamento no bloco FZA-M-59, situado a 170 quilômetros do litoral do Amapá, se dirigisse para o alto-mar, e não para terra, como apontado por este Alerta em várias edições (entre outras, em 25 de maio de 2023).
Ocorre que cinco dos sete derivadores do Greenpeace foram soltos próximos à costa e, previsivelmente, acabaram dando à terra em vários locais, alguns em unidades de conservação, que ocupam mais de 80% do território amapaense.
Já os outros dois (prosaicamente batizados como “Tartaruga marinha” e “Boto”), os únicos soltos nas áreas dos blocos exploratórios, de forma igualmente previsível, ambos cruzaram rapidamente a projeção marítima da fronteira com a Guiana Francesa e se dirigiram para águas internacionais!!!…
Ou seja, o que o Greenpeace Brasil acabou fazendo foi comprovar a exatidão dos prognósticos feitos por cientistas e observadores sérios sobre o risco virtualmente inexistente de um eventual vazamento nos blocos da região vir a atingir o litoral amapaense. Sem contar que, no caso da Petrobras, a empresa tem um histórico inigualável de segurança em 56 anos de exploração no mar, com mais de mil poços de produção sem um único acidente relevante.
Ainda assim, a ONG não se melindra em justificar a sua insidiosa campanha com tais resultados e, pior, atrever-se a fazer uma ilação com a tragédia da enchente no Rio Grande do Sul com a possível exploração ao largo do Amapá:
“Marcelo Laterman, porta-voz do Greenpeace Brasil, relembra que a população brasileira tem padecido aos mais brutais impactos da crise do clima, a exemplo das fortes chuvas que assolaram o Rio Grande do Sul. ‘Acabou o tempo. Não cabem mais manobras, desculpas e contradições’, diz, apontando a contradição do governo federal.
“O país que insiste em perpetuar o modelo do petróleo, em área sensível, na costa amazônica, não será o país da transição energética. Muito menos da justiça climática. Se o governo Lula não quiser ser lembrado como parte da solução, o será como parte do problema. Por isso pedimos que ele honre sua liderança pelo exemplo e declare a Amazônia, em terra e em mar, uma zona livre de petróleo (grifos no original).”
Na verdade, o que o Brasil precisa é tornar-se uma zona livre da guerra irregular contra o seu desenvolvimento movida pelo aparato “verde-indígena” internacional.