Comentando a respeito da participação do Brasil na presidência rotativa no Conselho de Segurança da ONU, Aldo Rebelo considera que a diplomacia do país deixou a desejar neste último mês de outubro, no qual exerceu o mandato. Para ele, o Brasil perdeu sua identidade diplomática e a coragem moral para se posicionar internacionalmente.
Para Aldo, diplomacia se faz com argumentos, convicções e coragem. No entanto, de nada adianta “bancar o bonzinho em um mundo de maldade”, de olho em uma possível cadeira como membro permanente no Conselho de Segurança, que seria meramente decorativa.
Maiores de chance de se colocar com força nos fóruns decisórios mundiais teria o Brasil construindo uma economia forte e a partir daí construir uma capacidade de dissuasão na defesa, sobretudo com uma marinha pujante para defender o imenso litoral e a plataforma continental brasileira.
Além disso, Aldo relembrou a Teoria dos Círculos Concêntricos, pela qual a projeção de poder primeiro se faria no círculo da América do Sul, consolidando seu poder na esfera do entorno estratégico, para depois projetar poder para círculos maiores, englobando o Atlântico Sul em direção à África e mesmo a Antártida.
Para isso, haveria a necessidade de obter o mínimo de coesão interna nacional na política externa, orientada por objetivos estratégicos, e não por preferências dos grupos políticos em disputa com base em critérios ideológicos, ainda mais para o entorno estratégico da América do Sul. “Para que o Brasil possa se colocar como mediador entre as disputas entre os países vizinhos, seja entre Chile e Bolívia; Venezuela e Colômbia”, completou Aldo.
A coragem e as convicções se fazem presentes no enfrentamento aos constrangimentos externos, impostos, segundo o ex-ministro, pela agenda do clima, sob a acusação de uma rede de ONGs. Nesse sentido, cabe recuperar a postura do diplomata Araújo Castro na primeira conferência internacional sobre o clima, em Estocolmo, 1972, associando a importância da preservação com o direito ao desenvolvimento, contra o congelamento do poder mundial.
Sobre o poder de veto no Conselho de Segurança, Aldo lembrou que nem sempre ele é ruim. Ainda que atualmente o direito a veto nas resoluções, exercido pelos cinco membros permanentes, seja objeto de muitas críticas, sobretudo neste momento de crise humanitária decorrente do Conflito Israel – Palestina, foi o poder de veto da Rússia que beneficiou o Brasil, em uma proposta de resolução do ano passado. Na ocasião, as potências da OTAN queriam associar a proteção ao meio ambiente como pauta de segurança internacional, provavelmente colocando o Brasil em uma posição ruim. Na votação doze dos quinze membros votaram a favor, contra abstenção da China e Índia, e voto contrário russo.