Um dos resultados da cúpula do G-20 no Rio de Janeiro foi o lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que visa acelerar os esforços mundiais para a erradicação da fome e da pobreza, no marco dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.
Toda iniciativa contra a fome e a subnutrição, que atingem mais de 700 milhões de pessoas em todo o mundo, é bem vinda. Porém, não deixa de ser contraditório que essa tenha sido lançada em meio a uma campanha global pela redução da produção de alimentos e do consumo de carne, disfarçada sob o duvidoso rótulo do “combate às mudanças climáticas”, e de tentativas de imposição de questionáveis acordos de livre comércio, como o pretendido para a União Europeia (UE) e o Mercosul.
Na Europa, produtores agropecuários de mais de dez países têm protestado nos últimos anos, não só contra a agenda “climática” da UE, mas também, como na França e Itália, contra o acordo com o Mercosul. A primeira, no marco do chamado “Pacto Verde”, pretende reduzir em proporções de até 30% as áreas cultivadas, rebanhos e o uso de insumos agrícolas. No segundo caso, com bons motivos, os produtores europeus temem perder parte de seus mercados protegidos para importações mais baratas dos países sul-americanos.
Um acordo entre o Mercosul e a UE não pode basear-se em um conceito equivocado de “livre comércio” que tanto prejudicará os produtores agropecuários europeus como os industriais sul-americanos, contribuindo para reduzir a segurança alimentícia em um caso e a complexidade econômica no outro.
Se se quiser realmente combater a fome, é preciso aumentar, e não diminuir, a oferta de alimentos de qualidade, além de ampliar as oportunidades de melhoras nas estruturas produtivas das nações, em um marco de cooperação para o desenvolvimento, em vez de uma competição predatória de soma zero.