O apagão presenciado em Portugal, Espanha e no sul da França não aconteceu por ciberataque ou algum evento meteorológico adverso, mas por uma falha de coordenação do sistema elétrico. O problema estaria na grande dependência das fontes renováveis, sobretudo a solar.
No momento do apagão, 70% de toda a energia produzida na Espanha vinha dos painéis solares. Uma sobrecarga de energia solar teria causado a pane geral no sistema elétrico.
De acordo com os especialistas em energia, os sistemas elétricos foram concebidos para sistemas de geração fixa (termelétricas, hidrelétricas, centrais nucleares etc), mas as políticas de transição energética, amplamente adotadas na Europa, forçaram uma opção por fontes intermitentes, como a solar (depende da insolação) e a eólica (dependente dos regimes de ventos). À medida em que as fontes solar e eólica passam a ser cada vez mais presentes nos sistemas elétricos, faz-se necessário uma readequação da gestão das redes, que até agora não se mostrou eficaz para evitar problemas como o apagão desta semana.
No Brasil, há o risco de apagões como este vierem a se tornar frequentes. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), entidade responsável pelo gerenciamento do sistema elétrico brasileiro, já emitiu alerta neste sentido, incluído em um relatório que aponta riscos para Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Mato Grosso, Rondônia, Bahia, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Piauí.
Em 2023, uma falha de desempenho de equipamentos solares e eólicos ligado à linha de transmissão Quixadá – Fortaleza ocasionou um apagão sentido no país inteiro.
Especialistas apontam que a dependência excessiva em fontes intermitentes, que apresentam picos de geração por fatores de insolação e regime de ventos, pode causar o fluxo reverso de energia, que acontece quando o excesso de energia produzida, ao invés de fluir da transmissora para a distribuidora de energia, faz o caminho contrário, voltando da distribuidora para a transmissora. Este fluxo reverso força um desligamento automático do sistema de transmissão, por excesso de carga elétrica nas linhas, tal como aconteceu no Ceará, há dois anos.
Se o Brasil continuar mantendo as políticas de apoio à “transição energética”, com base nas fontes intermitentes, é bom que se saiba o risco que se corre para os consumidores, para saber se compensam as políticas energéticas em consonância com as conferências do clima da ONU e da “zero emissões de carbono”.