O presidente francês Emmanuel Macron teve o desplante de afirmar que a exploração de petróleo na Margem Equatorial Brasileira “não é boa para o clima”. A que “clima” se refere o presidente gaulês, à despudorada relação com o presidente Lula?
O disparate, que o credencia ao topo do pódio do concorrido torneio global de cinismo em curso, foi expelido em um programa de televisão sobre a Conferência das Nações Unidas sobre o Oceano, realizada em Nice. Aproveitando-se das câmeras e da oportunidade de posar de “bom moço verde”, Macron disse que respondia a um pedido feito por vídeo pelo “cacique-celebridade” Raoni, que lhe pediu ajuda internacional para barrar a exploração de petróleo “no delta do Amazonas”.
“Acho que seria bom que ele [o presidente Luiz Inácio Lula da Silva] fizesse isso, mas não cabe a mim dar lições a ele. Também tenho muito respeito por todos esses países, para que haja um diálogo Norte-Sul, para que sejam incentivados a abandonar esses projetos e lhes permitir ter outras formas de criar crescimento nos seus países”, disse o presidente anfitrião.
Além da ignorância geográfica de Raoni, já que a área de exploração fica a mais de 500 quilômetros da foz do rio Amazonas, o cinismo de Macron é maior que a Torre Eiffel, pois omite deliberadamente o fato de que a petroleira francesa TotalEnergies anunciou há pouco investimentos de US$ 10,5 bilhões no Suriname, para explorar o campo petrolífero de Gran Morgu, situado a 150 km do litoral. E o sítio da empresa ainda chega a afirmar que o campo “é perfeitamente ilustrativo da nossa estratégia de transição [energética]: pelo seu impacto econômico e social para esse país sul-americano e para os esforços que estamos fazendo para minimizar as suas emissões de gases de efeito estufa”.
Os encarregados da publicidade e de imprensa da Petrobras bem poderiam inspirar-se em seus colegas franceses.
E as autoridades brasileiras deveriam aprender de vez que bom mocismo e cinismo não costumam ser compatíveis com os interesses maiores do país.