Como escrevi antes, uma das ações mais ambiciosas da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) no Brasil foi a Iniciativa para Conservação da Bacia Amazônica (ABCI, em inglês), que visava uma ocupação efetiva de áreas críticas da Amazônia, para “estabelecer uma barreira verde de áreas protegidas” – claro, “protegidas” contra atividades econômicas no bioma Amazônia.
A ABCI não prosperou, em boa medida, pela intervenção do governo brasileiro após a denúncia do Movimento de Solidariedade Ibero-americana (MSIa), levando a USAID a convertê-la na Iniciativa para Conservação da Amazônia Andina (ICAA), mas sem o Brasil, que era o alvo principal do programa original.
A ICAA também não teve o sucesso pretendido por seus idealizadores, mas a proposta de criação de grandes áreas contínuas que servissem como barreiras às atividades econômicas foi herdada por um projeto ainda mais ambicioso, o Corredor Andes-Amazônia-Atlântico, mais conhecido como Triplo A, que, como o nome sugere, previa a criação de uma faixa contínua de unidades de conservação e terras indígenas, da Cordilheira dos Andes ao Oceano Atlântico via Amazônia.
A proposta foi apresentada em 2015 pelo antropólogo colombiano-estadunidense Martin von Hildebrand, fundador da Fundación Gaia Amazonas (FGA), e endossada pelo então presidente colombiano Juan Manuel Santos. Na ocasião, a FGA tinha entre os seus financiadores a Inter-American Foundation, ligada ao Congresso dos EUA, que exercia funções análogas às da USAID.
A intenção de Santos era conseguir o apoio do Brasil ao projeto, para apresentá-lo como uma iniciativa conjunta sul-americana na conferência climática de Paris (COP21). Mas, assim como havia ocorrido com a ABCI, na década anterior, o MSIa denunciou publicamente a proposta, ensejando uma firme reação contrária de certos setores institucionais brasileiros, em especial, as Forças Armadas, quanto à participação do País no mesmo. Reação que, como no caso do projeto da USAID, esvaziou o “Corredor”, que não teria sentido sem o Brasil.
Em tempo: enquanto escrevia, chegou a notícia do anúncio do fechamento da USAID, feito pelo governo Trump. Só posso dizer, já vai (muito) tarde.