Na semana passada, a empresa de laticínios Danone anunciou que não comprará mais soja do Brasil, para não contribuir com o desmatamento do país, como fazem suas concorrentes. Em uma cínica justificativa, o executivo da empresa, Jurgen Esser, afirmou que, de agora em diante, “só levamos ingredientes sustentáveis conosco”.
A atitude da empresa francesa é, no mínimo, hipócrita e um contrassenso, diante das firmes reações dos agricultores franceses e europeus contra os excessos da política ambiental da União Europeia, a qual demonstra um esgotamento da paciência de um número rapidamente crescente de pessoas sensatas com essa agenda ideológica e política.
Além disso, não deve ser coincidência o fato de o anúncio ter ocorrido após a aprovação pelo estado de Mato Grosso, o maior produtor de soja do Brasil, de uma lei que suspende quaisquer benefícios, inclusive fiscais, a empresas que participem de acordos internacionais restritivos da produção agropecuária, como a famigerada Moratória da Soja em vigor desde 2006.
A Moratória é um acordo firmado entre ONGs ambientalistas e entidades representativas dos cartéis internacionais de alimentos, que exclui do circuito comercial qualquer produção realizada em áreas do bioma Amazônia desmatadas depois de 2008. Isto apesar de o Código Florestal de 2012 permitir o corte de até 20% da vegetação original nas propriedades privadas situadas no bioma. Ou seja, a Moratória se sobrepõe ao próprio Código Florestal, que já por si é uma legislação ambiental de um rigor sem paralelo em qualquer outro país do mundo.
Agora, entidades representantes dos produtores estão propondo um boicote geral aos produtos da empresa francesa “politicamente correta”. Só podemos apoiar: dane-se a Danone!
Após a repercussão negativa do anúncio entre produtores brasileiros, a empresa afirmou que não vai deixar de comprar soja do Brasil, desde que em conformidade “com as regulamentações locais e internacionais” e que sua aquisição passa por processos de verificação de origem e rastreabilidade, assegurando que o insumo não venha de áreas desmatadas”.
Diante das pressões provenientes da União Europeia, em um contexto de finalização do acordo comercial Mercosul-União Europeia, só o protesto dos produtores brasileiros pode surtir efeito.