A conferência climática COP-29, em Baku, Azerbaijão, terminou com o esperado impasse sobre o financiamento climático, conta que os países em desenvolvimento pretendiam cobrar dos desenvolvidos para, alegadamente, adaptarem-se aos desafios das mudanças do clima.
Como já aconteceu em edições anteriores, a declaração final fala em US$ 300 bilhões anuais a serem atingidos até 2035, sem qualquer mecanismo para assegurar que tais fortunas sejam efetivamente desembolsadas.
Assim, a bola foi transferida ao Brasil, que sedia a COP-30 em Belém (PA), daqui a um ano, com a responsabilidade de evitar o colapso da agenda articulada pela Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas, o grande receio de um número crescente de militantes e tecnocratas, temor acentuado pela vindoura chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos.
Para receber o convescote climático (que, este ano, teve um público inferior à metade do da COP-28 em Dubai), a capital paraense está passando por uma rápida recauchutagem, com uma série de obras sendo feitas a toque de caixa para receber as dezenas de milhares de participantes esperados. No total, deverão ser gastos cerca de R$ 5 bilhões do governo federal, na revitalização de parques e da orla fluvial, a ampliação do terminal hidroviário, um sistema de BRT, melhora do sistema de saneamento e outras obras.
A realização de uma COP em Belém é um irônico símbolo das prioridades equivocadas que têm motivado a grande campanha de “descarbonização” da economia mundial a pretexto de uma ameaça climática inexistente, e da própria agenda ambiental em geral. O maior problema ambiental do planeta não tem nada a ver com o clima ou o desmatamento da Amazônia, a despeito do catastrofismo que está na moda, mas as deficiências da infraestrutura de saneamento e disposição de lixo e a ocupação irregular de áreas de risco.
Neste quesito, a capital do Pará é emblemática. Com 1,3 milhão de habitantes, mais de 80% deles não tem acesso a redes de esgoto e apenas 13% contam com tratamento para o esgoto, sendo o restante lançado “in natura” no rio Guamá. Os índices podem aumentar um pouco com os investimentos que estão sendo feitos, mas o problema continuará distante de uma solução adequada para a população local.
Sem dúvida, os R$ 5 bilhões investidos numa conferência de duas semanas, de uma agenda que se aproxima de um beco sem saída, poderiam ser muito melhor empregados no enfrentamento do problema real do saneamento básico. Com esse dinheiro, seria possível construir pelo menos quatro novas estações de tratamento de esgoto (Belém só tem duas, que atendem a menos de 200 mil pessoas) e ampliar a rede de esgoto para cobrir praticamente toda a cidade.
Ah, mas a preocupação geral é faturar com o mecanismo de créditos de carbono, além do clima de 2050 e o nível do mar de 2100…
Foto: Ricardo Stuckert.