O governo brasileiro defende a criação de uma estrutura de “governança global” voltada para a “racionalização” dos minerais críticos para a pretendida transição energética pós-combustíveis fósseis. A proposta foi feita pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, no Future Minerals Forum, promovido pelo governo da Arábia Saudita, em Riad, nesta quarta-feira 15 de janeiro. Suas palavras:
“Não vamos resolver problemas comuns sem soluções comuns. A transição energética é um fato, a nova economia é uma realidade, a economia verde. Mas nós temos que fazê-la de forma equilibrada, justa e inclusiva. Aproveitando as oportunidades do ponto de vista da sustentabilidade, mas também do eixo econômico que ela apresenta para o mundo como uma chance de promover a inclusão social. Por isso, é tão importante discutirmos modelos de exploração mineral no mundo, garantindo que sejam realizados de forma adequada, promovendo desenvolvimento econômico com sustentabilidade e resultados sociais. Essa governança global é fundamental para fortalecer os organismos internacionais e alcançarmos nossos objetivos, incluindo os compromissos internacionais assumidos com a descarbonização.”
Enfatizando, ele acrescentou que “é essencial discutir uma governança global que permita uma transição de forma equilibrada, respeitando a soberania dos países e as diversas fontes energéticas”.
Provavelmente, o ministro não se apercebeu do oximoro representado pela das expressões “governança global” e “soberania dos países” na mesma frase, em especial, no tocante ao controle de recursos naturais. Convém lembrar que, após a II Guerra Mundial, os EUA propuseram na recém-criada Organização das Nações Unidas a internacionalização de todas as jazidas de minerais radioativos do mundo, que seriam colocadas sob o controle de uma autoridade supranacional, sob o pretexto de evitar a proliferação descontrolada de armas nucleares, o chamado Plano Baruch. Na ocasião, o Brasil, por influência do almirante Álvaro Alberto da Mota e Silva, pioneiro das pesquisas nucleares no País, se opôs categoricamente à proposta, que acabou rejeitada.
Num momento crítico como o atual, em que o presidente eleito da maior potência mundial fala abertamente em “comprar” ou “controlar” territórios estrangeiros ricos em recursos naturais, seria bom que os representantes do governo do Brasil tomassem muito cuidado com as palavras e, mais ainda, com as propostas que ventilam publicamente.