O “vírus” da transição energética descarbonizadora parece ter se tornado endêmico na Alemanha, e desidratada as tradicionais características de racionalidade, propensão à eficiência e conservadorismo, marcas registradas do espírito econômico germânico.
Em novembro de 2024, a Prefeitura de Hamburgo demoliu parte da usina termelétrica de Moorburg, desativada em 2021, para permitir a construção de um eletrolisador de hidrogênio. A usina de 1.600 megawatts (MW), a mais moderna do país, havia entrado em serviço em 2015 e, apesar de abastecer toda a cidade, funcionou por apenas seis anos, sendo paralisada devido às pressões políticas do Partido Verde, então integrante da coalizão do governo municipal, no contexto da campanha geral da “transição energética” (Energiewende) contra as usinas termelétricas e nucleares, estas últimas todas fechadas em 2023.
As pressões, apoiadas por ONGs como a BUND e o Greenpeace, incluíram uma série infindável de exigências regulatórias à operadora Vattenfall, que acabou jogando a toalha e vendendo o sítio à empresa distribuidora municipal Hamburger Energiewerke.
Em troca da usina, a Prefeitura anunciou a intenção de construir no local um eletrolisador de hidrogênio de 100 MW, com previsão para ampliação até 800 MW, dentro dos planos de conversão da cidade em um centro de “energia do futuro”.
O problema é que, assim como tem ocorrido com outras fontes de energia ditas renováveis, como a eólica e a solar, o desempenho dos projetos de hidrogênio, na Europa e na América do Norte, não tem fôlego para energizar uma economia industrial que requer fontes de energia sólida.
Segundo o “Financial Times”, o indicador do desempenho acionário do setor, o S&P Kensho Global Hydrogen Economy Index, perdeu todos os ganhos desde o pico de 2020-21 e caiu aos níveis de meados de 2020.
Recentemente, a consultora McKinsey rebaixou os seus prognósticos para o mercado de hidrogênio nos EUA até 2030. O Tribunal de Auditores da União Europeia também advertiu que as metas de produção de hidrogênio no bloco são “irrealistas”. E Mark Lacey, chefe de Ativos Temáticos da corretora Schroders, afirma que “o hidrogênio verde ainda não está pronto para investimentos”.
Como explicar a parada cerebral de uma Alemanha que é o país que deu ao mundo gigantes da ciência e da tecnologia do calibre de Planck, Einstein, Heisenberg, Wernher von Braun, Manfred von Ardenne, Ferdinand Porsche e incontáveis outros.