O recém-nomeado secretário-geral da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), o antropólogo estadunidense-colombiano Martín von Hildebrand, guarda um velho ressentimento com o Movimento de Solidariedade Ibero-americana (MSIa) e os militares brasileiros, aos quais atribui o fracasso do seu delirante projeto do Corredor Triplo A (Andes-Amazônia-Atlântico).
Em 2015, Hildebrand, que é fundador da ONG Fundação Gaia Amazonas, apresentou o bizarro projeto que contemplava a criação de uma rede interligada de unidades de conservação e terras indígenas, estendendo-se dos Andes ao Atlântico, passando pela Amazônia. Se implementada como pretendido, o Triplo A estabeleceria uma gigantesca área de mais de 1 milhão de quilômetros quadrados virtualmente “esterilizada” contra praticamente quaisquer atividades produtivas modernas. Apesar disto, foi entusiasticamente endossada pelo então presidente colombiano Juan Manuel Santos, que propôs ao Brasil que ambos a levassem à conferência climática COP-21 em Paris, em dezembro daquele ano.
Porém, a divulgação da proposta pelo Movimento de Solidariedade Ibero-americana (MSIa) ocasionou uma forte reação contrária do Exército Brasileiro, por intermédio do seu então comandante, general Eduardo Villas Bôas, e do Itamaraty, levando o governo brasileiro a rejeitá-la prontamente.
Em uma entrevista à ONG Observatório do Clima, em dezembro de 2018, na qual investiu contra o recém-eleito presidente Jair Bolsonaro por sua crítica ao projeto, von Hildebrand admitiu:
“(…) Há três anos e meio o presidente Santos ficou interessado pela ideia e a lançou a iniciativa com seus ministros. Eu estava presente, estava todo tempo apoiando a equipe do governo e estive nas reuniões com os chanceleres. Quando o presidente lançou a ideia, disse à chanceler colombiana: vá e fale com o chanceler do Brasil e convide-os para ver se estão dispostos a considerar essa ideia. Mas isso saiu nos jornais, e a Avaaz, essa organização que faz petições, lançou isso com uma descrição pouco precisa, de que faria uma área protegida, um corredor desde os Andes até o Atlântico. E não era nada disso, era apenas conectividade ecossistêmica. Mas eles interpretaram assim e em uma semana ou duas coletaram 1 milhão de assinaturas. E isso saiu nos jornais. Quando nossa chanceler foi falar com o Itamaraty, já foi recebida com uma pedra na mão. Com toda razão. E houve uma reação dos militares, que escreveram na revista deles que isso era um ataque à soberania. Houve um artigo sobre isso [no site do Movimento de Solidariedade Ibero-americana] que dizia textualmente o que Bolsonaro está dizendo agora: isso atenta contra a soberania nacional, são 136 milhões de hectares etc. E esse artigo dizia que essa proposta do presidente colombiano vinha de uma ideia do Martín von Hidelbrand, que está ligado por meio de sua fundação com a Inglaterra e com o Príncipe Charles. O Príncipe Charles e a Inglaterra não estão envolvidos, nada a ver!”
Ocorre que Bolsonaro não estava equivocado, quando sugeriu uma vinculação entre o Corredor e as negociações internacionais sobre o clima. Afinal, a referência foi feita pelo próprio presidente Santos, quando apresentou a proposta, em fevereiro de 2015. Em entrevista ao programa de TV oficial Agenda Colombia, ele afirmou:
“Vamos propor criar este corredor ecológico para preservá-lo e como aporte da humanidade nesta discussão sobre as mudanças climáticas, de como deter as mudanças climáticas… Se parece uma boa ideia aos outros países, (o objetivo) é fazer este aporte para a humanidade na cúpula das mudanças climáticas, a COP-21, no final deste ano, em Paris (Estado de Minas, 16/02/2015).”
Em suma: a presença desse alto operativo do aparato ambientalista-indigenista internacional na OTCA precisará ser acompanhada de perto, para evitar que novas ideias de jerico do gênero voltem à pauta.
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