Os custos da “transição verde” foram bastante subestimados. A observação é do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, no seminário Green Swan 2024, promovido pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS) de Basileia, Suíça, considerado o banco central dos bancos centrais.
“A transição verde está se mostrando muito mais custosa, como vimos aqui, e também os insumos necessários para isso provaram ser mais inelásticos do que esperávamos. Então, acho que a inovação está se mostrando muito mais difícil de modelar do que esperávamos”, disse ele (“O Estado de S. Paulo”, 09/11/2024).
“Quando olhamos como modelar essas coisas, é muito difícil não pensar em externalidades positivas”, disse ele. A respeito destas últimas, ele citou como exemplos, no caso das empresas, a reputação envolvida na opção por investimentos “sustentáveis”, como os relacionados aos créditos de carbono.
Do lado do consumidor, a substituição de produtos “verdes” por “não verdes” também não é tão óbvia, observou: “Se você olhar para o mercado de proteína agora, as pessoas pagam mais por proteína se tem o rótulo verde ou sustentável e tem menos sensibilidade aos preços. Agora, temos uma grande mudança no preço da proteína no Brasil, você pode ver isso claramente.”
Igualmente, o presidente do BC comentou a dificuldade de modelar questões relacionadas às taxas de carbono, devido às diferentes abordagens adotadas pelos diversos países: “Não acontece dessa forma porque, na Europa, você tem ajustes de impostos de fronteira. Em alguns outros países, não. Então, quando você impõe impostos, isso muda muito os incentivos de países que têm ajustes de impostos de fronteira para países que não têm. Isso também é muito relevante.”
Traduzindo do dialeto financeiro do “economês”, esta é mais uma evidência de que os custos econômicos e os obstáculos tecnológicos da dita transição energética/ecológica tem sido amplamente subestimados. É mais que hora de que os formuladores de políticas, tomadores de decisões, formadores de opinião e a cidadania em geral, passem a encarar o assunto com a devida objetividade, deixando de lado os cenários idílicos e ideológicos.
Ou seja, o “cisne verde” (que, ironicamente, dá o título do seminário do BIS) parece já ter dado o seu canto.