A investida de Donald Trump contra a Agência dos Estados Unidos para Ajuda Internacional (USAID), está revelando um segredo de polichinelo: a utilização da estrutura de ajuda humanitária e “apoio às democracias” como instrumentos de intervenção e guerra irregular contra os países alvos do Deep State estadunidense.
Uma das ordens executivas assinadas logo no primeiro dia do mandato determinava uma suspensão por 90 dias de todas as operações de ajuda externa, para reavaliação e realinhamento”. Dias depois, num ataque direto, Elon Musk, chefe do recém-criado Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, em inglês), afirmou que a agência era um “ninho de vermes” e deveria ser fechada. Por sua vez, Trump completou, dizendo que ela era dirigida por “um bando de lunáticos”. No momento, a agência encontra-se com suas atividades quase totalmente paralisadas, enquanto os novos controladores do poder em Washington decidem o seu destino.
Enquanto isso, o mundo em geral foi informado do que já era de conhecimento público de qualquer investigador das interferências estadunidenses em todo o mundo. Entre outras operações de “ajuda”, ficou-se sabendo que a agência financiava nada menos que 90% dos órgãos de imprensa da Ucrânia (depois que o presidente Volodymyr Zelensky, hoje sem mandato legal, fechou quase todos os que lhe faziam oposição).
Juntamente com a Fundação Nacional para a Democracia (National Endowment for Democracy, NED) e os Institutos Sociedade Aberta do megaespeculador George Soros, a USAID tem sido uma peça-chave da agenda intervencionista estadunidense nas últimas décadas, fomentando “revoluções coloridas” e apoiando organizações não governamentais (ONGs) de várias áreas de interesse daquela agenda, como meio ambiente, direitos humanos, treinamento pró-democracia e outras.
No Brasil, onde atua desde 1962, um ano após a sua fundação, desde a década de 1990, a USAID tem sido uma das principais financiadoras da agenda ambiental e indigenista, inclusive, com ativos programas de capacitação de “profissionais treinados em meio ambiente”. Muitos dos atuais líderes do aparato ambientalista-indigenista que opera no País passaram pelo seu programa de “lideranças ambientais”. Em média, a “ajuda” referente ao meio ambiente passou a representar cerca de metade do seu orçamento dedicado ao Brasil.
Em 2005, a USAID iniciou a sua ambiciosa Iniciativa para Conservação da Bacia Amazônica (ABCI, em inglês), que visava uma ocupação efetiva de áreas críticas da Amazônia, por meio da coordenação de ações de diversas ONGs ambientalistas e indigenistas do Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Guiana e Guiana Francesa. O objetivo do programa era “estabelecer uma barreira verde de áreas protegidas” – para conter as atividades econômicas de uma vasta região transnacional do bioma Amazônia.
Em maio de 2007, o Movimento de Solidariedade Ibero-americana (MSIa) expôs o programa no seu boletim semanal Resenha Estratégica, o qual circulou rapidamente por todo o País e catalisou uma firme resposta à ABCI por parte de setores do governo brasileiro, via Itamaraty e Ministério da Defesa. O “mal-estar diplomático” com a embaixada dos EUA, como o qualificou o jornal Correio Braziliense, forçou uma paralisação do programa, que foi retirado do sítio eletrônico da USAID e posteriormente reconvertido na assim chamada Iniciativa para Conservação da Amazônia Andina (ICAA), já sem o Brasil, que era o seu objetivo principal.
Por essas e outras, só podemos fazer coro com as muitas vozes sensatas que estão pedindo o fechamento puro e simples dessa agência subversiva.